quinta-feira, 24 de maio de 2012

ENTREVISTA COM CAIO FEIJÓ À REVISTA EXPOENTE
Tema: RELAÇÃO PAIS E FILHOS E PROFESSORES E ALUNOS

1 – Hoje uma das principais queixas dos pais e professores é a falta de limites das crianças e adolescentes. Reclamam que os pais deixaram de lado seu papel de educador. Por que os pais estão tão perdidos?
R - A resposta deste item está diretamente relacionada com a questão da evolução humana moderna, principalmente, informação e mercado de trabalho.
Informação: os jovens de hoje, muitas vezes são mais informados do que os pais, tem mais facilidade no manuseio da “máquina”. A internet está aí com milhões de informações e isso é relativamente novo, mas não pra quem nasceu com o teclado e o mouse nas mãos. Nós, os mais velhos, somos de um tempo em que era necessário aprender a usar a “novidade”, quanta resistência! E hoje temos resistência em assumir que é possível aprender com os filhos. Com isso quero dizer que é muito mais difícil estabelecer limites sem o “poder” que lhe concede esse direito (excluindo-se aqui, é claro, o poder da coerção), falo do poder legítimo, o poder conquistado ao longo da existência por méritos de personalidade e ajustamento.
Quanto ao segundo tópico, há pouco tempo atrás a mulher ainda exercia o papel de dona de casa, enquanto o marido era o provedor familiar. Hoje com a sua libertação profissional “não sobra ninguém em casa para educar os filhos”que acabam ficando com babás, com os avós, mais tarde no jardim de infância e depois no shopping ou no condomínio.
Invariavelmente, a solução que os pais encontram é a de atribuir à escola esse papel, e depositam seus filhos nos “melhores colégios” para serem “educados”. Coitado do professor que, além de toda carga de responsabilidade docente, tem agora, também que fazer as vezes dos pais dos seus alunos.
Com essa resposta concluo que é urgente que os pais se conscientizem da necessidade de rever seus papeis de educadores e, talvez até, se capacitarem para isso. Ser competente na educação dos filhos, exige, não só boa vontade e boa intenção, mas, também, conhecimentos científicos sobre desenvolvimento, comportamento e interação humana.
2 – Muitos pais têm medo de ser enérgicos com os filhos e acabar causando traumas. Como impor limites sem ser excessivamente autoritário?
R - Têm, antes de tudo, que conquistar o poder legítimo, para estabelecer os limites. Não faz sentido algum um pai ou uma mãe que fuma, tentar proibir o filho adolescente de fumar, ou pais obesos tentarem determinar o que é bom ou ruim para o filho, se eles mesmos não seguem essa regra, ou pais que costumam mentir e agora tentam impor castigo ao filho que contou uma mentira. É uma questão de referência familiar, ou possui ou não. Autoritarismo é sinônimo de incompetência.
3 – Qual a importância dos limites para a criança? E quais as principais conseqüências de uma educação sem limites?
R- Uma criança precisa ser conduzida, o ser humano nasce 100% dependente. A criança quer ser aceita no seu meio, no entanto essa condução não surte efeito quando ocorre somente em situações de interesse do condutor (pai ou mãe), e também não surte efeito quando modificada bruscamente: até agora os pais foram passivos e superprotetores, agora, não satisfeitos com o comportamento do filho, tentam controla-lo com ameaças. Os resultados podem ser traumáticos. É o conhecido caso da garota que, superprotegida, sempre teve tudo o que quis, os pais eram passivos. A partir de um certo momento, insatisfeitos com o comportamento da filha, os pais a proibiram de namorar. Resultado: foram mortos pelo namorado e o irmão dele sob as ordens da própria filha. Toda coerção traz subprodutos como a violência, por exemplo.
4 – Hoje é freqüente a reclamação de educadores em relação a falta de limite dos alunos. Até onde vai o papel dos pais e onde começa o da escola?
R - O estabelecimento de limites é obrigação dos pais. Uma criança que compreende o seu papel (direitos e deveres) e o papel dos outros com quem convive, não terá problemas quando for para a escola. O professor não terá dificuldades dessa natureza com esse aluno. No entanto, crianças sem limites, quando obrigadas coercitivamente a conviver em sociedade, a receber ordens e serem limitadas nas suas ações, tendem a se queixar dos professores e a não gostar de ir para a escola e de estudar.
5 – Muitos pais sabem na teoria o que fazer mas não conseguem colocá-la em prática. Por favor, dê algumas dicas de situações práticas. Por exemplo, a maioria dos pais hoje passa o dia no trabalho. Como agir no pouco tempo que têm com os filhos?
R - A questão de trabalhar fora não deve ser impedimento de uma educação qualificada. A qualidade da relação pais-filhos é muito, mas, muito mais importante do que a quantidade dessa relação. É mais provável um bom resultado no caso de uma mãe que trabalha fora e quando chega em casa oferece alguns momentos de  atenção e afeto ao filho (de qualquer idade), demonstrando real interesse pelas questões do dia dele, dialogando, ou seja (ouvindo muito também), propondo opções de soluções para as dificuldades, do que uma mãe que passa o dia inteiro em casa com o filho gritando com ele: sai daqui menino! Não faça isso, não faça aquilo! Vou te bater!
6– No seu livro você fala dos erros mais comuns cometidos pelos pais. Quais são eles e como evitá-los?
R - O maior dos erros (classe média e alta), é a superproteção, ou seja: fazer pelo filho o que ele poderia fazer sozinho. Cria-se filhos dependentes com esse método e, quando não tiverem os pais por perto para fazer por eles, sofrerão as conseqüências que a vida (e essa é cruel), proporciona.
Sugiro bom senso para a busca do equilíbrio entre a superproteção e a proteção necessária que os pais devem dar aos filhos, como a questão dos valores “Liberdade X Responsabilidade”. Quando os filhos aprenderem que liberdade é conseqüência da sua própria responsabilidade, os pais terão demonstrado competência na educação.
Outros erros como coerção, agressão e rejeição, são mais facilmente compreendidos, bem como as conseqüências que causam.

7 –Como repreender as famosas pirraças no supermercado? O que fazer quando o filho passa a tarde inteira na frente da TV? Fazer com que arrumem o quarto? - Como colocar limites nas diferentes faixas etárias. Exemplo: de 0 a 3 anos; 4 a 7; adolescência.....
R - Infelizmente não é a minha proposta a oferta de soluções prontas para as várias situações que possam ocorrer (infelizmente porque os livros de auto ajuda vendem muuuuuuuuuito mais). Recentemente um jornalista escreveu numa matéria o seguinte texto:  muitos pais não encontrarão no livro de Caio Feijó (Pais Competentes, Filhos Brilhantes) o que gostariam de ver, mas, com certeza, encontrarão o que precisam ver”.

No livro são apresentadas algumas teorias do aprendizado que explicam quase que a totalidade dos comportamentos humanos. São apresentados, também, os possíveis métodos de extinção de comportamentos indesejados.

Não podemos perder o foco de que o livro é cientificamente fundamentado e se propõe a capacitar pais e professores a educar filhos e alunos, ou seja: pode ser visto como um instrumento de capacitação na busca da competência, e oferece também, e aí sim é resultado de pesquisas e de experiências, os sete princípios fundamentais para prevenir ou corrigir erros de educação.

Livro sugerido:
“Pais competentes, filhos brilhantes”
Autor: Caio Feijó - Editora: Novo Século


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