Talvez
um dos momentos mais esperados pelas mães seja ouvir a primeira
palavra saltitar da boca de seus bebês. Apesar da ansiedade boa e do
prazer em acompanhar a descoberta de cada sílaba, surgem várias
dúvidas e angústias quanto à normalidade desse processo, que é a
porta para a principal forma de comunicação que eles usarão para o
resto da vida: a fala. Para solucionar toda essa incerteza e fazer
com que o processo se restrinja a momentos deliciosos, fomos atrás
de especialistas que esclareceram as principais inquietações das
mães quanto aos possíveis problemas no desenvolvimento da
linguagem.
1.
Quando é normal a criança começar a pronunciar as primeiras
palavras?
Entre
os 3 e 6 meses, o bebê começa a emitir sons isolados, que acabam
sendo uma forma dele brincar com a própria voz. Depois disso, em
torno dos 6 e 9 meses, começam a ocorrer as primeiras silabações,
período carinhosamente chamado pela pediatra do Hospital das
Clínicas de São Paulo, Ana Escobar, de “lalação”, devido à
junção de sílabas como “mama”, “papa”, “dada”. A
partir do primeiro ano de vida, já se pode esperar os primeiros sons
com significados, estes geralmente atribuídos pelas mães. Vale
lembrar que, por se tratar de um desenvolvimento biológico,
variações são muito comuns.
2.
Quais as primeiras palavras que a criança pronuncia?
Geralmente
são palavras simples, de uma ou duas sílabas, referentes a
nomeações de objetos ou pessoas. “Mã” (mãe), “pa” (pai),
“aa” (água) são exemplos comuns.
3.
É normal uma criança de quase 2 anos dizer apenas mamãe, papai,
água?
De
acordo com a fonoaudióloga Rosana Giovannelli Carvalho, espera-se
que as crianças com 2 anos consigam reproduzir parte dos enunciados
dos adultos, sem que para isso estejam necessariamente formulando
frases completas. Em casos muito distantes disso, pode ser necessária
uma avaliação fonoaudiológica. No entanto, como relembra a
pediatra Ana Escobar, mais importante do que simplesmente falar é a
capacidade da criança dessa idade em conseguir entender o que lhe é
dito e se fazer entender, seja pelos gestos, seja por outras formas
de expressão (como negar algo, pedir colo etc.).
4.
Como agir quando a criança apenas aponta, mas não fala a palavra?
É
importante que sempre que a criança aponte para alguma coisa, a mãe
estimule a fala do pequeno. Por exemplo, se a criança aponta para um
copo de água, a mãe pode reforçar: Á-GUA. Mais do que isso, é
interessante sempre dar opções, como no exemplo do copo de água,
pode-se questionar: “você quer a ÁGUA ou o COPO?”.
Um
estímulo natural na fala acaba acontecendo quando as crianças
entram na escola. Diferentemente do que acontece em casa (o pequeno
aponta e todos já sabem o que ele quer), no ambiente escolar ele
verá a necessidade de se expressar de outras formas – falando –
para que seus desejos sejam atendidos.
5.
Meninas falam antes do que os meninos?
Não
existe nenhum estudo que comprove essa teoria. Apesar disso, é
bastante aceito o fato de que o estímulo motor se desenvolva mais
rapidamente em meninos, que acabam se preocupando mais em andar do
que em falar. Assim, a pediatra Ana Escobar diz que, mesmo sem
comprovações científicas, as meninas acabam falando um pouco
antes, sim.
6.
Quando a criança começa a formar as primeiras frases?
Por
volta dos 2 anos. São frases curtas, com poucas palavras, como:
“Quero isso”, “Não quero água”.
7.
É normal uma criança começar a gaguejar sem motivo aparente? Isso
significa que ela será gaga?
É
normal a criança apresentar algum tipo de falha no fluxo da fala,
chamado de disfluencia. Isso pode acontecer pelo fato do pensamento
acontecer muito rápido e o pequeno ainda não ter a capacidade de
articular o que quer dizer. A gagueira, no entanto, é diferente e se
mostra como um acontecimento constante nos diálogos. Em caso de
dúvida, antes de corrigir ou rotular o menino ou a menina, vale
procurar um especialista.
8.
A mãe deve corrigir quando a criança fala uma palavra errada?
A mãe
pode dar o modelo e repetir a palavra de forma correta. Isso faz com
que a criança tenha mais oportunidades de ouvir a versão certa e,
assim, consiga corrigi-la naturalmente. A mãe é a principal
influência na fala de seus pequenos. Apesar disso, vale tomar
cuidado para que esse hábito não se torne exaustivo e desgastante
para as duas partes.
9.
Por que os pais não devem repetir os erros de pronúncia da criança?
Repetir
erros de pronúncia é um hábito comum que, segundo Flávia Ribeiro
coordenadora do serviço de fonoaudiologia do Hospital São Luís, em
São Paulo, faz parte do aprendizado e pode até ser um estímulo
para que a criança continue falando. O problema se dá quando isso é
exacerbadamente estimulado pelos pais, o que pode levar o pequeno a
se familiarizar com a palavra errada. Vale lembrar que os pais são a
principal fonte no aprendizado e no processo do desenvolvimento da
fala e é bacana, sempre que conveniente, corrigir erros e manter um
tom de voz natural, sossegado e com boa articulação (e não agudo,
infantilizado) para que o filho se espelhe nisso.
10.
Qual a maneira ideal para estimular a criança a falar?
A
médica Flávia Ribeiro afirma que a fala é uma habilidade natural
do ser humano, fruto da necessidade de comunicação e, portanto,
deve ser desenvolvida de forma espontânea. Assim, a mãe pode – e
deve – conversar com o filho, verbalizar sentimentos, contar
histórias, cantar. A pediatra Ana Escobar lembra que a melhor forma
de aprendizado acontece com descontração e diversão.
11.
Quais os sinais de que a criança tem de fato um problema de fala?
De
acordo com a fonoaudióloga Rosana Giovannelli Carvalho, são vários
os problemas de fala. A mãe pode observar se há alterações muito
marcantes na fala de seu filho e nos pequenos da mesma idade. Outro
exemplo comum são crianças de quase 3 anos que ainda não conseguem
articular palavras ou formar frases, o que já é esperado para essa
faixa etária. Então, vale procurar um especialista.
12.
Se a criança apresenta dificuldades para falar significa que ela tem
algum outro problema ligado ao seu desenvolvimento?
Existem
diversas causas para isso, além das relacionados ao desenvolvimento.
Entre elas, Rosana Giovannelli Carvalho destaca as sociais, psíquicas
e neurológicas. Exemplos são lesões neurológicas identificadas
por meio de exames, alterações auditivas (que mesmo em pouca escala
podem causar alterações no padrão de fala) e ambientes em que as
pessoas pouco falam e, assim, a criança não se sente motivada. É
importante identificar a raiz do problema para trabalhá-la em
conjunto com a dificuldade em falar.
13.
Quais os motivos pelos quais uma criança não fala?
As
causas podem ser orgânicas, o que inclui dificuldades físicas, como
problemas auditivos, neurológicos, de articulação das palavras, ou
sociais e psíquicas, como a timidez. Crianças que sofrem agressões
também podem ter dificuldade para falar.
14.
Qual a hora de procurar um fonoaudiólogo?
Sempre
que os pais perceberem que a criança está com dificuldades para
desenvolver a linguagem, se suspeitarem que ela não ouve direito ou
mesmo que tem algum problema na voz.
15.
É normal a criança trocar letras (L por R, F por V)?
Sim.
Até os 4, 5 anos, a criança está em uma fase de aquisição de
fonemas e pode apresentar algumas trocas pertinentes. É considerada
normal a substituição de sons que ela ainda não consegue produzir
por outros que já foram adquiridos.
É bom
ficar atento e observar se as trocas se corrigem naturalmente (por
volta dos 3 anos) ou se será necessário procurar ajuda de um
fonoaudiólogo.
16.
Qual deve ser a atitude dos pais quando o filho fala muito errado?
Os
pais têm sempre que tentar corrigir seus pequenos e ter paciência
com o aprendizado deles. No entanto, quando a criança fala muito
errado, é importante procurar um fonoaudiólogo. Ele é o
profissional capacitado para identificar e trabalhar com os problemas
relacionados à fala.