Como fazer
seu filho se sentir amado e seguro desde pequeno
Os pequenos cuidados mostram ao bebê o quanto ele é querido e desejado.
Essa sensação vai acompanhá-lo para sempre, ajudando-o a se tornar um adulto
autoconfiante.
Acontece com todo mundo: um belo dia você se flagra diante do berço do
seu bebê perguntando-se se é mesmo capaz de dar conta do recado de transformar
aquele ser tão delicado em um adulto seguro de si, que saiba superar as
frustrações da vida e se impor num mundo que a cada dia se torna mais impessoal
e competitivo. Só de pensar no tamanho dessa responsabilidade dá um frio na
barriga. Pois esse friozinho ainda vai assaltá-la muitas vezes. É inevitável! A
boa notícia é que fazer do seu bebê uma pessoa confiante e segura não requer
prática, habilidade nem pós-graduação em nada. Essa característica se constrói
no dia-a-dia com pequenos gestos e atitudes que transmitem ao pequeno a
sensação de ser amado. Entre pais e filhos, a linguagem do amor é intuitiva.
Depende de sentimentos sinceros e não se deixa enganar por comportamentos
ensaiados ou declarações da boca para fora.Para dizer "eu te amo" As
maneiras de demonstrar sentimentos mudam de uma pessoa para outra e engana-se
quem pensa que a mãe mais beijoqueira é a mais afetiva. Cada mulher tem um
estilo e ninguém deve forçar comportamentos na tentativa de copiar um padrão.
"É melhor encontrar a própria forma de comunicação com o filho, seja ela
qual for", garante o psicólogo Antônio Carlos Amador Pereira, professor da
Faculdade de Psicologia da PUC-SP. "O importante é o interesse e o afeto
sinceros, pois bebês e crianças pequenas são muito mais sensíveis do que se
imagina. Eles captam emoções que muitas vezes nem os adultos perceberam
ainda." A simples presença, o interesse verdadeiro e a dedicação dos pais
são as bases desse diálogo amoroso. A criança sente que, aconteça o que
acontecer, os pais estarão por perto para ampará-la. É essa noção que desperta
nela, desde já, as sementes da autoconfiança necessária para que se torne uma
pessoa segura no futuro. "Inversamente, a criança negligenciada nas suas
necessidades e sem o referencial de afeto de um adulto está sempre confusa e
tensa. Por isso, tem mais probabilidade de se transformar num adulto
inseguro", explica Amador Pereira.
Observe, converse, cuide
Ficar de olho no bebê e conversar com ele são os primeiros passos para
fazê-lo se sentir amado. "O simples olhar é uma espécie de toque, que
transmite muito à criança", ensina a psicóloga Ceres Alves de Araújo,
também professora da Faculdade de Psicologia da PUC-SP. De tanto observar o
bebê, aos poucos a mãe consegue identificar, por exemplo, se a careta é de dor
ou de pura manha. Com isso, atende às necessidades da criança e dá a ela a
noção de ser amparada: "Nos primeiros meses, a sensação boa de ser amado
vem sobretudo dos cuidados básicos", completa. Também a fala é, desde
muito cedo, uma forma de tranqüilizar a criança e reafirmar que ela está no
centro das suas atenções e do seu amor. Só de ouvir a voz da mãe, o bebê
sente-se amparado pela sua presença e, mesmo sem entender tudo o que é dito,
capta as emoções. "Acostumei o Guilherme a ficar mais no carrinho e no
berço do que no colo. Mas, para mostrar que estou por perto e deixá-lo feliz,
vou conversando e contando historinhas enquanto cuido de outras atividades. É o
suficiente - ele fica calmo e em paz", afirma a dona-de-casa Kátia Regina
Castro, 27 anos, mãe de Guilherme, 5 meses. De fato, a voz da mãe tem um efeito
mágico, mas é preciso ficar atenta às emoções que estão sendo transmitidas. Já
reparou que basta aumentar o volume da voz para que o bebê já arme uma carinha
de choro? Não se engane: as anteninhas dele estão sempre ligadíssimas e são um
radar poderoso para perceber irritações e tensões. Não significa que apenas os
filhos criados em ambientes de absoluta tranqüilidade tenham chance de se
transformar em adultos saudáveis. "A criança pequena aprende por
repetições. Uma instabilidade emocional de vez em quando vai ser captada, mas
não ficará registrada na memória por muito tempo. Gritos, brigas e outros
deslizes começam a atrapalhar o desenvolvimento emocional do bebê quando se
tornam constantes", alerta Amador Pereira.
A força do carinho
Nos primeiros anos de vida, o
contato físico pode ser uma declaração de amor mais eficiente do que as
palavras. Massagear o bebê, acariciar-lhe o rosto e deslizar as mãos de leve
pelas costas dele no banho proporcionam intenso bem-estar ao pequeno. "O
toque faz a criança sentir-se segura e protegida, além de ser prazeroso para
ambos", afirma Ceres Araújo.
Esse envolvimento mútuo é mesmo
o segredo do sucesso, na opinião do psicólogo Amador Pereira: "O toque
precisa vir acompanhado de uma emoção que parta da mãe em direção ao filho.
Movimentos automáticos não dizem nada para a criança. Se a mãe pega o bebê no
colo, mas não está atenta àquele contato, a criança logo percebe e fica
desconfortável. É que, apesar do gesto, ela capta a displicência da mãe e não
relaxa". Ao contrário, quando a mãe também está envolvida emocionalmente,
o bebê sente-se acolhido e se entrega. A empresária Ana Luísa Almeida, 37 anos,
costuma massagear Pedro, 13 meses, desde bebezinho. "No começo, a intenção
era prevenir as cólicas. Hoje funciona como uma verdadeira terapia para os
dois. O Pedro sorri e faz gracinhas o tempo inteiro. Uma delícia!", conta.
Esses momentos de carinho reafirmam à criança o quanto ela é importante - meio
caminho andado para o desenvolvimento de uma auto-estima elevada, sem a qual
não se constrói uma personalidade segura. Afinal, quem gosta de si mesmo e tem
consciência do próprio valor tende a ser mais independente e pouco vulnerável à
necessidade de aprovação alheia.
Rituais preciosos
Curtir momentos especiais ao
lado do bebê também é uma maneira de mostrar o quanto ele é importante na vida
dos pais. A advogada Fabiane Torres, 27 anos, por exemplo, aproveita o tempo
livre que passa com o filho, Victor, 2 anos, para brincar: "Ele sabe que,
quando eu chego em casa, é hora da folia. A gente espalha giz de cera pelo chão
e fica rabiscando até ele cansar. Outro momento gostoso é a hora de dormir. Eu
o deito em minha cama e conversamos até ele pegar no sono. Só depois disso é
que vai para o berço", conta. Por mais simples que sejam, esses instantes
de carinho que se repetem dia após dia acabam se transformando em rituais que
marcam profundamente a vida da criança. O bebê gosta de sentir que alguns
momentos da rotina materna são dedicados exclusivamente a ele.
Cabe a cada mãe estabelecer
esses intervalos em seu dia-a-dia e descobrir a melhor maneira de se divertir
ao lado do filho. Além de reforçarem na criança a noção de sua importância na
vida da mãe, esses rituais diários transmitem uma relevante mensagem de
estabilidade. Diferentemente dos adultos, crianças pequenas são fãs da rotina -
não curtem pratos novos, olham com desconfiança pessoas desconhecidas e ficam
de mau humor quando o horário da soneca atrasa. A repetição de rituais é
interpretada por elas como sinal de que tudo está bem, o que lhes dá a
segurança necessária para - aí, sim - fazer as descobertas e tentativas
naturais de cada fase do desenvolvimento.
O prazer das novas descobertas
À medida que cresce e se torna
mais independente, a criança começa a sentir prazer em exercitar sua autonomia.
Quer sentar sem ajuda, arriscar os primeiros passos, tentar comer segurando a
colher nas próprias mãos... São momentos de descoberta muito importantes e que
devem ser reforçados pelos gestos de amor dos pais. "Permitir que o bebê
faça as suas experiências, sem interferir, é um ato de amor fundamental para o
bom desenvolvimento dele", alerta Amador Pereira. Claro que é preciso
estar por perto para socorrê-lo nas tentativas mais desastrosas. Mas pais
superprotetores ou que não deixam a criança à vontade acabam criando filhos
inseguros e sem iniciativa. Desde que teve o primeiro bebê, a operadora de
telemarketing Renata Cristina do Amaral, 26 anos, procurou dar a ele muita
liberdade. "O Gabriel hoje está com 10 meses e já anda. Acho que é porque,
desde cedo, ele fica à vontade em casa. Preparamos o ambiente, tirando tudo o
que pudesse machucá-lo, e o deixamos livre para encarar suas descobertas sem
risco. Estou sempre atenta, mas ele faz suas tentativas por conta própria. Acho
importante meu filho sentir que suas conquistas vêm do esforço pessoal",
conta. Acertadíssimo! E nada melhor para reforçar a segurança do seu pequeno
desbravador do que comemorar essas primeiras vitórias com muitas palmas,
sorrisos e carinhos. Ele precisa disso para se sentir estimulado a ir adiante e
a completar seu desenvolvimento de modo saudável. É assim que aprende a
importância de confiar em si e de encarar os desafios que a vida impõe e
imporá.
Cada fase, um cuidado
O desejo de afeto continua o
mesmo em todas as idades, mas as necessidades do bebêmudam de acordo com a
etapa do desenvolvimento. Confira, a seguir, o que é mais importante a cada
fase para reforçar no seu filho a sensaço de que ele é muito amado.
Até 6
meses
O bebê
é totalmente dependente e sua primeira percepção de afeto vem dos cuidados que
recebe. O leite oferecido quando ele sente fome, o agasalho no frio e a troca
de fralda são atenções que lhe transmitem a noção de estar sendo amado e
amparado pelos pais. O contato físico também é importantíssimo, e o seio da mãe
que amamenta retoma com o filho a ligação antes feita pelo cordão umbilical.
Além de amamentar, a mãe passa seu carinho abraçando o bebê, cantando, sorrindo
e tocando-o no rosto e no corpo.
De 6 a
12 meses
Os
cuidados, o toque e a conversa continuam importantes, mas é hora de começar a
colocar alguns limites. Seu filho está mais independente, consegue se distrair
sozinho e já não precisa ser socorrido sempre de modo imediato. Ele pode e deve
aprender a tolerar esperas. Não se impressione com um chorinho ou outro. O
choro é uma forma de comunicação da criança e não necessariamente significa
sofrimento. Então, muita calma e tranqüilidade ao atender o bebê.
De 12 a
18 meses
A
posição dos pais vai se modificando. Eles devem estar presentes, mas sem
interferir a todo momento nas atividades da criança. Nesse período, a criança já
começa a atribuir significado às palavras. Por isso, converse bastante e
estimule o bebê nos seus primeiros desafios: andar, correr, tentar brincadeiras
diferentes. Reserve seu lugar na platéia e não tenha medo de aplaudir cada
pequena conquista.
De 18 a
24 meses
O bebê
interage muito mais com os pais e aceita brincadeiras e passatempos cada vez
mais complexos. É a oportunidade para os pais entrarem no mundo de imaginação
da criança. O simples fato de participar de uma brincadeira proposta pelo filho
já transmite segurança e afeto. Comece também a tomar precauções com o que diz.
O bebê já entende boa parte do vocabulário utilizado pelos pais, ainda que não
consiga reproduzir todas as palavras. A partir de agora, os pais devem dar
explicações mais completas às dúvidas da criança. E o ideal é que toda
advertência feita ao bebê seja acompanhada de uma justificativa. Se entender o
porquê de uma proibição, seu filho vai perceber que, por trás do que parece
punição, há, na verdade, uma boa dose de amor.